FUTEBOL FEMININO

Marta: "Incentivo e motivação"
(FIFA.com) Segunda-feira 10 de janeiro de 2011


Pelo quinto ano consecutivo, Marta conquistou o prêmio de Jogadora do Ano da FIFA. O drible deconcertante e o faro de gol a mantêm como a grande rainha do futebol mundial. Emocionada como sempre, com lágrimas nos olhos, mas de pura felicidade, a brasileira falou com o FIFA.com sobre todas as suas emoções minutos depois de descer do palco.


A quem você dedica o prêmio?
À minha família, às companheiras de equipe, a todas as pessoas que trabalham comigo e me ajudam e incentivam. Acho que sem elas ao meu lado não conseguiria nada disto.

Marta após receber o troféu de melhor do mundo em 2010.

Ainda tem lugar em casa para guardar os troféus?
Tenho um quartinho em casa especialmente para todos os troféus, e também um espaço reservado para todos os da FIFA. Ainda tenho mais lugar, e se não tiver encontro logo (risos).

O prêmio é uma motivação ou um peso?
Pesar, pesa (risos). É claro que em parte é um peso, uma responsabilidade grande, porque
as pessoas esperam mais da gente. É como se a gente tivesse de levar a equipe nas costas sozinha. Mas eu sempre trabalhei bem esse aspecto, tanto nas minhas equipes quanto na seleção brasileira. As minhas companheiras me demonstram que a responsabilidade é de todas. Assim me livro do peso e vejo este prêmio como algo positivo, como um incentivo, uma motivação que fortalece a minha vontade de trablhar firme e voltar mais vezes aqui
incentivo, uma motivação que fortalece a minha vontade de trabalhar firme e voltar mais vezes aqui. E ganhar mais vezes, enfim, sempre ajudando as minhas equipes.

Como é possível melhorar?
Fazendo mais gols, talvez de cabeça, que é o que me falta, com a perna direita... Preciso continuar melhorando física e mentalmente para não prejudicar o meu crescimento em campo. Este troféu é uma motivação para que eu possa seguir melhorando.

Da esquerda para direita: Messi, Marta e Blater.

O que diria às rivais desta noite?
São duas grandes jogadoras que tiveram um ano muito bom e chegaram aqui por méritos. A Prinz é uma jogadora que inspira muitas outras e que tem uma história no futebol bastante rica. A Fatmire tem um grande futuro pela frente. São jogadoras de alto nível.

Terão revanche na Alemanha em julho?
Espero que não tenham êxito (risos). Quero ganhar lá também com a seleção brasileira.

Cinco prêmios. Nada mal, não é?
Eles representam muito, especialmente para nós, porque para as mulheres é mais difícil. Os homens ganham muito dinheiro e podem jogar em vários clubes. Nós trabalhamos muito, mas nunca sabemos o que vai acontecer no ano seguinte - se vamos ter time, até mesmo uma competição. Por isso é uma honra e um orgulho. Este troféu não é só meu; ele é dedicado ao futebol feminino.





A mulher na história na filosofia e no futebol

O reconhecimento social da mulher como “atleta de futebol” foi e continua sendo um desafio para as adolescentes que querem transformar o sonho de menina atleta em realidade. A família aparece como o primeiro obstáculo, o segundo é provar que profissional de futebol não é um direito exclusivo do homem; o terceiro, obstáculo e talvez o mais contundente, se refere à crença de que o físico feminino é naturalmente inapropriado para exercício de alguns esportes. Algumas práticas esportivas como futebol e boxe, por exemplo, parecem oferecer maiores restrições às mulheres; por isso, no país do futebol, o futebol feminino é ainda alvo de desconfiança e de certo estranhamento e, freqüentemente, as atletas são constrangidas por referências bastante ofensivas em relação a elas. O campeonato paulista de futebol feminino, realizado em 2001, tinha a beleza como um de seus principais critérios para a aceitação de jogadoras. O projeto elaborado em conjunto pela Pelé Sports & Marketing preconizava a necessidade de “desenvolver ações que enaltecessem "a beleza e a sensualidade da jogadora para atrair o público masculino” e “desenvolver ações de consultoria de imagem, estilo pessoal e treinamento de mídia com as jogadoras” (Folha de São Paulo, 16/09/2001).
                 Equipe Futebol Feminino 2010

A iniciação no futebol é igual para meninas e meninos, ou seja; jogo na rua em frente à casa, meninas contra meninos ou mesclado; traves de sandália, tijolo ou pedra. E nesses jogos sem compromisso, o tradicional racha (nome dado aos jogos de rua), existe algumas regras: a formação dos times pode ser feita por ordem de chegada ou sorteio do tipo par ou ímpar; o tempo total do jogo pode variar de cinco a dez minutos ou ainda de cinco minutos ou um gol ou dez minutos ou 2 gols. Se do lado de fora tiver apenas um time esperando o que vencer fica, se tiver mais times as duas equipes podem sair  e as regras vão sendo moldadas de acordo com o numero de peladeiros.

O leitor pode perceber uma coisa, a história de trabalhar em campo reduzido não é uma criatividade contemporânea, desde moleque quando participava dos rachas os jogos eram nesse espaço adaptado. No final do século XX e começo do século XXI os técnicos de futebol começaram a priorizar o treino em espaço limitado chamado de campo curto, campo reduzido ou aproximação. Devem ter se lembrado do tempo de criança, pois além de trabalhar a habilidade, raciocínio, e técnica, o moleque que não fosse esperto no racha não era escolhido, ficando sempre para a próxima. A habilidade da rua não é ensinada por professor ou orientador técnico, ela acontece de maneira espontânea.

Meninas e meninos começam a se desenvolver em um conjunto particular de movimentos que compõe a coordenação motora, que é a capacidade de usar de forma mais eficiente os músculos esqueléticos (grandes músculos). A coordenação permite à criança ou ao adulto dominar o corpo no espaço, controlando os movimentos mais rudes. Exemplo: andar, pular, rastejar, correr, jogar futebol e outros. Este tipo de coordenação é considerado pelos cientistas como coordenção motora grossa.

Vocês já ouviram aquela história de que o dono da bola é o dono do time? Provavelmente sim; não era necessário ser a fera do racha mas era o mais respeitado e a frase dele era sempre a mesma “eu escolho o time”, ou em ultimo caso, “se eu não jogar vou-me embora e levo a bola”. No racha a bola pode ser feita de meia (geralmente do pai, ou um meião cheio de papel para chutar). Pode ser uma bola de capotão, a maioria das bolas de capotão era furada ou não tinha a câmara, mais não importava, o objetivo era jogar.

Temos o costume de, vulgarmente, chamar de habilidades somente as ações motoras. Como se para pensar ou se relacionar socialmente, não recorrêssemos também igualmente a habilidades e capacidades. Por exemplo, a habilidade de saltar um obstáculo depende de força e velocidade. Saltar muitas vezes seguidas tem a ver, além de força, com a capacidade de resistência. Pensar é um ato que pode levar à exaustão, dependendo da capacidade de resistência do indivíduo para pensar. Fintar um adversário no futebol ou no basquetebol requer agilidade, e assim por diante, (Freire, 2003: pg, 20).

A prática do futebol de campo está arraigada aos grandes craques do futebol. Pelé, Didi, Zito, Pepe, Djalma Santos, Jairzinho, Rivelino, Tostão, Zico, Sócrates, Junior e outros. Desculpem-me se não enumerei mais craques; é que não dão para enumerar todos eles...

Comparando-se com a  reduzida lista da mulher que pratica futebol, percebe-se a diferença gritante. Se formos buscar entender a disparidade entre os sexos na história do futebol, vamos para o ano de 1964 quando o Conselho Nacional de Desportos (CND) proibiu a prática da modalidade  feminina no Brasil.  Levou quase duas décadas para que essa decisão fosse revogada, para ser mais preciso, só em 1981, as mulheres reconquistaram o direito de voltar à praticar desse esporte.
Sabemos que o primeiro jogo oficial de futebol feminino no mundo se deu em Londres, em 1898, em um jogo emocionante entre Inglaterra e Escócia. No caso brasileiro, porém, existem muitas controvérsias e versões. Segundo o Jornal O Estado de SP (1996, p.5) revela que o futebol feminino esteve relacionado a peladas de rua e a jogos beneficentes; mas Clério Borges, a primeira partida de futebol feminino foi realizada em 1921, em São Paulo, onde se enfrentaram os times das senhoritas catarinenses e tremembeenses.
A institucionalização do futebol feminino começou em meados da década de 80. Salles et al. (1996) afirmam que no Rio de Janeiro apresentou a primeira liga de futebol feminino do Estado do Rio de Janeiro foi fundada em 1981, e que muitos campeonatos que se seguiram eram patrocinados por diferentes empresas. Ainda segundo o mesmo jornal (1996), foi a partir de 1980 que o futebol feminino começou a se popularizar mundialmente. O time carioca Radar colecionou títulos nacionais e internacionais. Em 1982, conquistou o Women's Cup of Spain, derrotando seleções da Espanha, Portugal e França. A vitória estimulou o nascimento de novos times e, em 1987, a CBF já havia cadastrado 2 mil clubes e 40 mil jogadoras. No ano seguinte, o Rio de Janeiro organizou o Campeonato Estadual e a primeira seleção nacional conquistou o terceiro lugar no inédito Mundial da China. Em 1988, começou a decadência do Radar e, com ele, do futebol feminino do Brasil;  nas Olimpíadas de Atlanta, em 1996, e de Sydney, em 2000, o Brasil foi o quarto colocado e, em 2004, nas Olimpíadas de Atenas, conquistou medalha de prata. 
Na história atual do futebol feminino, as mulheres têm alcançado o reconhecimento merecido. Marta, por exemplo, eleita por três vezes melhor do mundo, dividiu palco e platéia com craques renomados no futebol mundial como Kaká, Ronaldinho Gaucho, Messi e Cristiano Ronaldo na entrega da última bola de ouro promovida pela FIFA.
A forma de olhar a mulher atleta de futebol tem uma relação direta de como os homens analisam sua postura dentro e fora do campo. Os filósofos, em geral, tematizaram a mulher ao longo dos séculos, demonstrando claro desprezo por ela. Segundo Pitágoras, “existe um princípio bom que gerou a ordem, a luz e o homem; há um princípio mau que gerou o caos, as trevas e a mulher” (Idem: 148). Embora a mulher tenha sido desprezada na história da filosofia, o tema “mulher” foi abordado por muitos pensadores. É preciso ter presente que as abordagens sobre a mulher encontram-se numa história da filosofia que foi escrita por homens.
O pensamento vigente é de que à mulher é permitido uma mente e um corpo, mas não os dois simultaneamente. Assim, a mulher jamais poderia produzir a razão, pois já possui a beleza. Essa dicotomia (separado em duas partes) entre alma e corpo também aparece no pensamento de Platão que, em O Banquete, mostra que o amor sensível deve estar subordinado ao amor intelectual, ou seja, “na juventude, predomina a admiração pela beleza física; mas o verdadeiro discípulo de Eros amadurece com o tempo e descobre que a beleza da alma deve ser considerada mais preciosa do que a do corpo” (ARANHA/ MARTINS, 1986: 342).
Na discussão sobre corporeidade, há uma associação do fraco com o feminino e do forte com o masculino. Aristóteles já afirmava que o corpo feminino está dotado de um cérebro menor.

Equipe Vice-Campeã dos Jogos Abertos em Piracicaba 2008

Diante disto, pode-se afirmar que a visão negativa do “ser feminino” baseia-se no entendimento, segundo o qual, as “deficiências”, “limitações” e a própria inferioridade da mulher decorrem de sua própria natureza, ou seja, da condição inferior da mulher é vista como algo natural e, portanto, imutável. Esta visão do “feminino” esteve presente na história da filosofia e continua sendo um desafio para as mulheres filósofas. Enquanto ser humano, a mulher é dotada de razão, mas o uso pleno e adequado ainda está reservado, majoritariamente, ao ser masculino.

 Assista ao Vídeo

Revisão técnica. Dra. Ana Maria Souza Lima Fargoni. Professora de Linguistica e Língua Portuguesa.


Referências Bibliográficas
Livros e periódicos


1. João Batista Freire (2006). Pedagogia do Futebol. – 2º. Edição Campinas, SP. Autores Associados.

2. Ramon Missias Moreira. A mulher no futebol brasileiro: Uma ampla visão. Revista Digital – Buenos Aires Maio de 2008 / http://www.efdeportes.com/.

3. Suraya Cristina Darido, Osmar Moreira de Souza Junior (2009). Para Ensinar Educação Física, 3ª. Edição Papirus Editora – Campinas, SP.