Uma das importantes
partes do crescimento de meninos é brincar de bola. Era a brincadeira que mais
mandava moleques chorando pra diretoria era chegar sujo e suado na sala de aula
após o recreio. A professora não perdoava. O envio à diretoria não era (apenas)
graças aos machucados relacionados ao jogo, e sim pelo fato de que a bola se
tornava uma febre no colégio, e qualquer um flagrado no meio da brincadeira era
enviado pra casa mais cedo. Muitos faziam de proposito para continuar com a
brincadeira do lado de fora.
Futebol arte, assim
como os outros jogos infantis que têm como único objetivo premiar o melhor, a
pelada da escola ou na rua, premiava o menino que melhor jogava, aplicando
chapéu em seus amigos, dribles desconcertantes, sem se preocupar com o futuro.
Para a maioria o simples fato de dar um drible ou fazer um gol já estava de bom
tamanho, ou como dizem os sábios de hoje, já ganhei o dia. A única regra que
exista e que existe hoje é quando se comete uma falta considerada agressiva.
Como não existia árbitro, era no grito mesmo – foi falta e era obrigado a parar,
isso era combinado antes. No futebol de hoje inventaram tal fair-play (jogo limpo),
criado pela FIFA. Na semana que passou os atletas do Criciúma acusaram os
atletas do Ceará de fazerem jogo sujo, por não devolverem uma bola que a equipe
catarinense tinha colocado pra fora para atendimento de um atleta. No reinicio
do jogo a equipe cearense se aproveitar da bola em seu favor para criar uma
jogada e empatar o jogo, estava feita a confusão. Na pelada de rua não existia
fair-play mais a equipe que parava a jogada, chamava a outra equipe de chorão e
ficava por isso mesmo. No jogo do Criciúma houve acusação e ofensas. Onde há
poder não existe jogo limpo.
Os amigos do racha não
se preocupavam com que iria acontecer, só queriam se divertir, o jogo era o
maior divertimento. Não tinha tribunal, porque a trapaça era combatida na hora.
O muleque, ou o trapaceiro perderia a vez na brincadeira, não era escolhido no
próximo jogo, e com honestidade nem imaginávamos que um dia esse tal de
fair-play iria aparecer em campos de futebol.
O fato era que os “brutamontes”
não tinham muita vez na pelada (olhem a seleção da Irlanda jogar), só tem
brutamonte, a essa equipe não foi ensinada a arte de jogar. Estavam sempre em
segundo plano ou iriam ser goleiros. Sempre o muleque mais habilidoso era o
primeiro a ser escolhido e essa ordem se seguia, o segundo melhor, o terceiro,
o quarto e por aí afora. E em futebol de muleque se jogava descalço, ou com
meias, o tênis era para ir pra escola ou passear com a família. Se chegasse a
casa com o tênis sujo, já sabia: palmada da mãe ou do pai. O grande “benefício”
desse jogo era sem duvidas a técnica e habilidade.
Aqui tudo começa
Estou filosofando
para tentar entender o fenômeno espanhol de jogar futebol. E não é de agora.
São seis anos de hegemonia total no futebol mundial. Diz-se que a necessidade
faz um monge. Seja lá quem falou isso foi feliz. Acredito que nem jogasse
futebol, mais deveria ter o dom de prever. E previu que o século 21 teria um
novo dono no futebol “A Fúria”.
“E o que tem essa equipe de futebol
que tanto encanta”. Vou ser chato e repetitivo. O saudoso mestre “Telê Santana
cansou de repetir - o passe é a devastação do futebol”. Bem resumido ou não? O
que a Espanha tanto faz é trocar passes, ter posse de bola, passar bem e criar
em cima de duas sínteses bem definidas: domínio de bola e criatividade. E isso
tem muito a ver com quem comanda.
Gostaria profundamente
de conhecer o técnico que formou atletas como Xavi, Iniesta, Sergio Busques, Piquet,
Sergio Ramos e outros. Porque na verdade eles jogam simples e fazem do futebol
um espetáculo de magia e cores. Ou você viu algum gol da fúria ser marcado onde
um atacante dribla toda defesa adversária? Poderá até acontecer, só que o jogo
coletivo dessa equipe supera o individual e torna uma forma de jogar única que
o telespectador não consegue definir quem é o melhor atleta em campo. Mais
todos afirmam: essa seleção é “espetacular, como esses caras jogam bola”. Ganhou
o conjunto, a equipe o time.
A Fúria está fazendo história
Em minha experiência,
eu diria que depois da primeira meia hora de jogo, o adversário deve começar a
se perguntar: “de onde vieram esses caras, que planeta eles habitavam, não são
normais”. Estão em duvidas com o que afirmei: perguntem a seleção Italiana. Não
deveriam chorar ao final do jogo, deveriam estar alegria, pois participaram de
um espetáculo tão grandioso que poucos terão esse prazer. Viram “a seleção Espanhola
em campo”, lado a lado, frente a frente. Depois da partida perceberam que os
grandes gladiadores não eram Romanos e sim Espanhóis.
A humildade do campeão
Eu vi equipes
espetaculares jogar e posso citar sem medo de errar. O Flamengo de Zico, Junior
e Andrade campeão da Libertadores e do Mundo em (1981). O São Paulo do mestre
Telê Santana (92 e 93), a seleção Brasileira de (1982) do mesmo técnico. O Grande
Milan de Van Basten, Riijkaard, Gullit (1988 a 1990). Não posso esquecer o
Carrossel Holandês de 1974 comandado pelo grande Cruyff. Eu não vi a seleção de
70 jogar, os grandes jornalistas que a viram afirmam que foi a melhor que
existiu – Pelé, Rivelino, Tostão, Jairzinho, Gerson, Clodoaldo, tá louco time
fantástico. Depois de alguns anos vi alguns jogadores dessa seleção defendendo
seus clubes. Eram sensacionais.
Vale lembrar que, em
futebol é simples diferenciar quem sabe e quem não sabe jogar. Tem muito
participantes, voluntários a jogador de futebol. Agora jogador na acepção da
palavra, poucos via de regra. Hoje qualquer atleta bem condicionado fisicamente
pode tornasse jogador de futebol profissional. Basta não deixar o adversário
jogar, aí o técnico fica feliz e ainda elogia “essa cara pega”, como corre. É
os tempos são outros, como mudou o conceito de craque no futebol.
Algumas frases comuns
que os técnicos pronunciam a beira do gramado:
- pega não deixa
jogar;
- chega cara, tira o
espaço dele;
- essa marcação da
muito frouxa;
- corre, tá cansado,
volta, volta, marca do meio pra trás;
- o bicho burro, eu o
mandei marcar um e tá marcando outro;
- fecha a casinha
compadre;
- dá um bico nessa
bola, você não sabe jogar e quer enfeitar.
Em nenhum momento o
técnico pediu que o jogador de futebol fizesse o simples, dominasse a bola e
passasse. Se não tentam melhorar a técnica do atleta, deles não podem exigir. Não
da importância à técnica quando treinam suas equipes, mais exigem jogadores tecnicamente
preparados para fazerem parte do seu elenco e resolver o problema de vitórias.
Conseguiram desvalorizar o próprio trabalho. Deixaram de lado o futebol chamado
“espetáculo”, para dar prioridade ao futebol de “resultado”.
Quando veem a seleção
Espanhola jogando se assustam e aparecem com o discurso pronto: falta investir
na base, tem que treinar isso, aquilo, o modelo é esse, o modelo é aquele.
Que a seleção
Espanhola continue vencendo e mostrando ao mundo que é possível sim, vencer e
dar espetáculo.
Abraços