sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

Como é difícil deixar de fazer o que se gosta


OPINIÃO

hoje deve ter sido o dia, mas difícil da vida do atleta de futebol Washington. No dia 13 de janeiro encerrou uma carreira de luta, de incerteza, de doença (lutou e enfrentou a diabete, que afetou o seu coração), enfrentou defesas fortes, pancadas, torcida que o hostilizavam, dúvidas de técnicos, imprensa e no último campeonato que disputou, ficou 17 partidas sem fazer gol. Encerrou uma carreira vitoriosa. Por onde passou foi artilheiro, em 2004 fez 35 gols no Campeonato Brasileiro, defendendo o Atlético Paranaense. Tornou-se o atleta com maior número de gols nesta competição. Jogou também na Ponte Preta, Caxias, Fenerbahce da Turquia, Verdy Tokyo do Japão, Seleção Brasileira, São Paulo e duas vezes defendeu o Fluminense.

Washington chorando durante coletiva de despedida
Washington ao lado de Fred e suas filhas.


Esse foi um dilema que enfrentou até com certa tranquilidade, pois a vida de atacante é feita de bons e maus momentos. Washington teve a coragem e a personalidade de dizer não. Poderia controlar a glicemia, tem aparato médico, o Fluminense poderia contratar um especialista para cuidar do seu problema, como fez o Atlético Paranaense.

A vida no futebol é diferente. Defendo a tese de que amor no futebol tem prazo de validade. E me alinho aos votos sagrados de: “até que outro contrato nos separe.” Juramentos na celebração dos contratos assinados. O ponto é: acabou a carreira como futebolista, está estabelecida uma morte. De qual morte falo? As pessoas podem imaginar tratar-se da morte física. Prefiro interpretar como o começo de uma nova era.

Todo início de relacionamento é mágico. Nossas ações são orquestradas e as palavras escolhidas meticulosamente. O olho brilha, o sorriso é autentico, tentamos mostrar o que temos de melhor: nossos valores são nobres e nossos feitos podem ser admiráveis.

Washington chorando durante coletiva de despedida
Coração Valente chora durante sua entrevista de despedida (Foto: Agência Photocâmera)

Tudo isso acontece porque estamos envoltos numa atmosfera de encantamento e sinergia, o futebol é a eficiência do diálogo, que corre fácil, dribla fácil, joga com naturalidade. Queremos durante noventa minutos falarem o que sentimos com a bola nos pés, a cada passe milimétrico, a cada lançamento, a cada virada de jogo, ao dominar a bola, ao passa-la, ate a finalização ao gol. Queremos mostrar durante o jogo, quem somos de onde viemos e para onde queremos ir. São momentos mágicos que podem fazer a felicidade, embebedar torcedores ávidos pelo brilho de uma partida de futebol. Se for precisar de anos, de horas, de minutos ou segundos para mostrar nosso cartão de visita, isso é: durante o jogo que vamos saber pronunciar.


O processo é o mesmo para pré-adolescentes, adolescentes ou homens. Diferem as estratégias, as táticas, mas não os propósitos.

Mas a natureza nos reservou um mundo dual. Dia e noite, quente e frio. E, não raro, os relacionamentos não apenas se desgastam, mas se esgotam. Não há mais calor da torcida, o sentimento não é o mesmo, os diálogos são fúteis, agressivos. Primeiro, a discórdia. Depois, o conflito. Por fim, o confronto. Colocamos nossa mente em dúvida, lembramo-nos do passado, cultivamos toda ordem de sentimentos. O pacote vem completo, com ressentimentos e desamor. Esperamos resolutamente que um extremo seja alcançado para tomar a decisão da separação que poderia ter florescido quando ainda havia respeito e admiração...




E foi essa atitude que Washington tomou. Campeão Brasileiro com o Fluminense em 2010, ele mesmo afirmou que foi seu maior título, parou consagrado. Não acredito que fique longe do futebol. Washington se comunica bem, pode ser empresário, comentarista, jornalista, fazer parte de comissão técnica, enfim, como teve sensibilidade em deixar o gramado como atleta, saberá o melhor caminho...



Entre lágrimas, Washington confirma o fim da carreira: ‘Vou parar de jogar’

em Mangaratiba atacante anuncia aposentadoria durante entrevista coletiva

A emoção se fez presente desde os primeiros minutos. Com lágrimas nos olhos, Washington chegou acompanhado de Alcides Antunes, vice de futebol, e Celso Barros, presidente do patrocinador, sentou no centro da mesa localizada na sala improvisada no hotel onde o Fluminense faz pré-temporada, em Mangaratiba, e com lenço e microfone nas mãos anunciou:


- As coisas foram um pouco antecipadas, a notícia saiu antes. E...(pausa emocionada) quero comunicar a todos que estou deixando o futebol. É difícil dizer. É uma decisão que tomamos em conjunto. Foi difícil. Estava me preparando para jogar mais esse ano, mas conversamos nesses últimos dois dias, repensamos e decidi realmente parar. É um momento difícil demais, é uma coisa que mexe com a gente, mas um dia ia parar. Um dia a profissão acaba e é importante ter hombridade e humildade para saber que nada vai apagar o que dei ao futebol e o que o futebol deu para mim.

Entre lágrimas, o atacante de 35 anos agradeceu a todos que fizeram parte dos seus 17 de carreira como jogador profissional e desabou novamente em emoção.

- Realizei o sonho de ser jogador de futebol. Dentro deste sonho conquistei título, amigos... É duro dizer alguma coisa neste momento. Quero agradecer a Deus, minha família, amigos, companheiros, treinadores, clubes onde marquei minha história. Desculpem a emoção, é até meio chato, mas não agüento. Só quero agradecer.

Também muito emocionado, o vice-presidente de futebol, Alcides Antunes, tomou a palavra e agradece ao Coração Valente.

- Só temos a agradecer ao Washington. Conversamos, ele tomou a decisão e esperamos ter o Washington conosco. O casamento não foi desfeito. Ele é uma grande pessoa e continuará por muito tempo no futebol. Só podemos agradecer por tudo que fez pelo Fluminense e desejo toda sorte daqui em diante.

Próximo do fim da entrevista, foi a vez de os jogadores invadirem a sala para uma despedida. Marquinho, Leandro Euzébio, Tartá, Ricardo Berna e Rafael abraçaram o “Xitão”. O capitão pegou o microfone e disse:

- Como capitão, só tenho que agradecer por tudo que você fez. Pela passagem em 2008, pelo ano passado em que foi importante. Além de admirador do seu futebol desde a época de Ponte, Atlético-PR... Como pessoa, você é exemplo. Está guardado no nosso coração, na torcida tricolor. Está saindo do futebol, mas esperamos que não deixe o Fluminense nunca.

Washington revelou que pretende seguir ligado ao futebol, mas que vai se dedicar aos estudos e família nos próximos meses. O atacante, que aposenta como maior artilheiro de uma edição do Brasileirão, 34 gols em 2004, recebeu ainda o convite para ser o embaixador do Flu na Libertadores e aceitou de imediato.

Gols de Washington:





Abraços

Fonte:

www.globo.com/esporte
www.youtube.com















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