quinta-feira, 3 de março de 2011

Dicas para observar uma equipe de futebol

Observar não significa apenas olhar; significa estar atento a tudo que possa representar um aliado para se preparar contra o próximo adversário, ou a oportunidade de tirar proveito da situação antes que o jogo aconteça. Quando a observação é uma prática constante, torna-se muito mais fácil se preparar para situações inesperadas.

Mas de nada adianta a observação sem o controle. Ter informações em mãos e não acompanhar a evolução do futebol, é o mesmo que perceber os primeiros sintomas e não checar o seu progresso ou retrocesso. Significa, nada mais, nada menos, que entregar a situação à própria sorte.

Existem diversas ferramentas de controle (tecnológicas ou não) que auxiliam no controle de informações. Utilizar-se delas ajuda na tomada de decisões estratégicas. Softwares, filmagem, fotos e até mesmo apontamentos podem contribuir – e muito – para o melhor entendimento das tendências do jogo de futebol.

Como exemplo de ferramenta "não-tecnológica" podemos citar um artifício chamado inteligência competitiva. Consiste em uma análise da equipe adversária que será seu próximo adversário. Ir ao estádio no dia do jogo, frequentar treinos, uso da internet, consultas telefônicas (ligar para um amigo para obter informação). Todas as informações coletadas são inseridas em um relatório onde a comissão técnica avalia os pontos fortes e fracos do(s) concorrente(s) e compara-os com o da própria equipe. Com isso, são sugeridas mudanças que objetivam a melhoria da tática e estratégia. São processos críticos para o  crescimento da equipe.

É importante salientar que inteligência competitiva É COMPLETAMENTE DIFERENTE de espionagem. A inteligência competitiva coleta informações disponíveis, ao passo que a espionagem industrial consiste na obtenção (geralmente por meios ilícitos) de informações de caráter confidencial. Obviamente esta prática não é recomendada por ser totalmente antiética (estratégia bourne).



Observações técnicas e táticas: Equipe Verde (vou chama-la assim)


Informações do jogo

Tipo de jogo: Campeonato Paulista série A-2 – 2011 – 9ª. Rodada.


1. Escalação da equipe:
1. Goleiro
2. Lateral direito
3. Zagueiro central direito
4. Zagueiro central esquerdo
5. Primeiro volante
6. Terceiro zagueiro
7. Atacante pelo lado direito
8. Segundo volante
9. Atacante de área (vou chama-lo de Manoel)
10. Armador (craque da equipe irei chama-lo de Junai)
11. Atacante pelo lado esquerdo


2. Sistema tático Predominante durante o jogo:
1-3-5-2 ou 1-3-4-3


2.1. Variações do sistema atacando:
1-3-5-2; 1-3-4-3; 1-2-5-3


2.1.2. Variações do sistema defendendo:
1-3-5-2; 1-4-4-2;


3. Pontos fortes durante o jogo:

a. O armador da equipe (vou chama-lo de Junai, nome fictício) é o responsável pelas principais ações ofensivas. Atleta destro, técnico, dinâmico e habilidoso. Escanteios, faltas frontais e laterais são de sua responsabilidade. É o atleta que faz a transição meio campo ataque. Nesta partida jogou entre a intermediária defensiva e grande área ofensiva. Não tinha responsabilidade de marcar, o desenho tático e o suporte dos atletas eram para ele jogar com liberdade. Alguns detalhes de Junai: “atleta inteligente e por este motivo é constantemente acionado. Trabalha sempre em progressão, utiliza sua dinâmica para receber a bola livre, e em posição para atacar o adversário. Quando o primeiro atacante de sua equipe disputava a bola no alto, fazia ultrapassagem e penetrava como atacante. Quando um atacante se deslocava pela lateral para servir como opção, penetrava na área para servir como opção central”;

b. Outro ponto favorável da equipe no ataque é o primeiro atacante que vou chama-lo de Manoel (nome fictício). Atleta alto com presença de área. Canhoto, vai sempre para disputa direta com os zagueiros, e usa bem o corpo. Nesta partida cometeu inúmeras faltas nos zagueiros. Atleta que merece ser marcado com inteligência;

c. O lateral direito vai constantemente ao ataque, até porque sua equipe joga com três zagueiros e sem lateral esquerdo. Sempre teve a característica de atacar. No jogo de ida disputado na fonte (0X2), fez o cruzamento para o primeiro gol de sua equipe. Este utiliza um expediente há bastante tempo e obtém sucesso: quando se aproxima da linha de fundo, levanta a cabeça, ameaça que vai cruzar, dá o drible para dentro e cruza com a perna esquerda;

d. A equipe Verde com posse de bola ocupava o campo de ataque com sete atletas, deixando o primeiro volante a frente dos três zagueiros.

4. Pontos vulneráveis durante o jogo:

a. O zagueiro central esquerdo nesta partida apresentou insegurança. Fazia a cobertura tática coletiva de maneira correta, mas se atrapalhava na parte técnica. Ou dava o passe errado ou perdia a bola. Tomou cartão amarelo por se descontrolar em uma jogada. Foi corretamente substituído, pois poderia ter sido expulso.

b. A equipe jogou sem lateral esquerdo no primeiro tempo. Nesta partida o atacante do lado esquerdo fez esta função. Quando estava sem a posse de bola, acompanhava o lateral direito adversário. Só que: o lateral direito levou vantagem no confronto direto, fazendo vários cruzamentos, um deles resultou em gol. No segundo tempo deslocou o segundo volante para fazer a função de lateral esquerdo.

5. Atletas mais importantes:

• Junai utiliza a inteligência para jogar futebol;
• O atacante de área Manoel, apesar da estatura bem mobilidade e incomoda o setor    defensivo;
• A dupla de zaga utiliza bem sua estatura nas bolas paradas.
• O atacante do lado esquerdo é veloz.

6. Organização da defesa quando atacada: Marcação por zona após o meio de campo. Não utilizam marcação agressiva por setor: 1-3-5-2 ou 1-4-5-1.

Alguns pontos a considerar no primeiro tempo: uma linha com três zagueiros; um lateral de oficio; dois volantes: um fixo e o outro que sai para o jogo; um armador e teoricamente três atacantes (lado direito, um atacante centralizado e um pelo lado esquerdo). O lateral direito batia com o lateral esquerdo adversário, os três zagueiros se revezavam na marcação dos dois atacantes adversários. O atacante do lado esquerdo acompanhava o lateral adversário. O primeiro volante exercia marcação individual sobre o armador adversário. Junai não tinha a quem marcar, pois os dois volantes adversário não ultrapassavam para o campo de ataque, ficavam dando suporte defensivo. O segundo volante da equipe Verde bloqueava o terceiro volante adversário quando este atacava. O atacante pelo lado direito e o primeiro atacante Manoel ficavam na frente. Um detalhe: O primeiro volante da equipe Verde acompanhou individualmente o armador da equipe adversária. Percebendo este tipo de marcação, fez a movimentação lateral com o intuito de atrair seu marcador, e abrir espaço para sua equipe atuar.

 O lateral direito da equipe Verde tentou marcar o lateral da equipe adversária, mas não conseguiu acompanhar sua velocidade.
 No segundo tempo o técnico da equipe verde tirou o atacante pelo lado direito e colocou outro atacante. Deslocou o segundo volante para lateral esquerda. Adiantou o terceiro zagueiro como volante e o colocou ao lado do primeiro volante e de Junai. E fez três atacantes. Jogou no 1-4-3-3. Depois do segundo gol sofrido, fez substituição e mudou a estratégia da equipe. Substituiu o zagueiro central por outro atacante com características de velocidade, e desfizeram os três zagueiros. O atacante do lado esquerdo foi deslocado para lateral direita (é ambidestro). O primeiro volante foi jogar como zagueiro, o lateral direito como volante e Junai permaneceu na armação. Na frente: três atacantes. Aos 30 minutos do segundo tempo apresentou nova alternativa. Substituiu o lateral direito por um meio campista, o primeiro volante voltou a jogar como volante. Houve um revezamento na lateral direita entre o primeiro atacante e o volante.

 7. Organização da defesa atacando:
 1-3-5-2, 1-3-4-3 e 1-4-3-3. No primeiro tempo do jogo ficaram sempre os três zagueiros, e um volante de contenção;

 Nos escanteios e faltas laterais, os zagueiros vão para área com o lateral direito. O segundo volante ficou no rebote ofensivo. Atrás: dois atletas para marcar um adversário.

8. Organização do meio de campo: atacando e defendendo;

Nos dois momentos, ocupou o meio de campo com 5 a 7 atletas.

Defendendo: Apesar de o primeiro volante exercer marcação individual, foi por dentro que aconteceram os dois gols da equipe adversária. As jogadas começaram na lateral e terminaram com a conclusão por dentro. Sem a posse de bola o único atleta que fazia marcação forte no meio de campo era o primeiro volante. Nesta partida não aconteceu à cobertura de volante para volante, pois jogavam distantes. Os dois laterais adversários penetravam por dentro como se fossem armadores;

Atacando: o primeiro volante da equipe verde ficou na frente dos zagueiros e o segundo volante saia para o jogo. O segundo volante e o lateral direito tentaram se aproximar de Junai para fazer os setores funcionar. Detalhe: atacante aberto, lateral por dentro. Atacante por dentro, lateral por fora.

9. Organização do ataque: atacando e defendendo:


Atacando – o primeiro atacante Manoel era a referência, com movimentação de área a área. Os atacantes do lado direito e esquerdo faziam apenas setor. No primeiro tempo não houve inversão de posição, pois o atacante do lado esquerdo acompanhava o lateral direito adversário. O armador da equipe Verde Junai era o homem que se aproxima do primeiro atacante para tabelar e penetrar na área. Quando recuperavam a posse de bola, a transição defesa ataque era com ênfase no toque de bola.

Defendendo – Ficavam na frente o primeiro atacante e o atacante do lado direito.

Jogada ensaiada:

Falta lateral esquerda: o segundo volante penetrou na área e o lateral direito ficou no rebote. Junai rolou a bola entre a marca do pênalti e a risca da grande área. O segundo volante saiu por trás da zaga adversária e finalizou de perna esquerda. Jogada que merece atenção.

10. Desenho tático e variações:

Entrou jogando no: 1-3-5-2 ou 1-3-4-3 no primeiro tempo. No segundo tempo jogou no 1-4-3-3.

11. Função individual: o primeiro volante da equipe Verde marcou o armador adversário individualmente no primeiro tempo. O mesmo fez o atacante do lado esquerdo no lateral direito adversário.

Com posse de bola – saída para o ataque:

Com toque de bola: Tocando a bola, o ataque adversário não marcou a saída de bola;

a. Em velocidade por setor: Setor esquerdo;

b. Com lançamentos: Não aconteceu. O adversário não permitiu contra ataque;

c. Quando da posse de bola: preferem o toque de bola de maneira cadenciada.

12. Organização no ataque. Quantos atletas?

Com posse de bola: dois atacantes abertos e um centralizado. Chegando por trás: Junai, o segundo volante e o lateral direito.

12.1 Jogadas envolvidas – setores;

Setor direito – lateral direito é forte no apoio;

Setor esquerdo – pouco produziu.

Quando defendendo:

a. Defesa: Jogou com três zagueiros. Como jogou sem lateral esquerdo o atacante pelo lado esquerdo voltava para recompor o setor;

b. Meio campo: Quem marcou forte e individual foi o primeiro volante. Os outros componentes do meio campo marcavam por setor;


c. Ataque: Não marcaram a saída de bola dos zagueiros;


d. Tipo de recomposição:  Normal sem intensidade. Não brigavam pela posse de bola.


Quando perde a posse de bola. Como se recompõe os setores da equipe?

Não houve remanejamento de posições, faziam setor, e isso comprometeu o desenvolvimento tático da equipe.

13. As principais jogadas?

As bolas paradas foram as jogadas perigosas da equipe Verde.

14. Característica física, técnica e tática da equipe?

Condicionamento físico: Ficou com um jogador a, mas, desde os 30 minutos do primeiro tempo, e não conseguiu exercer pressão na equipe adversária, se limitando a tocar a bola.

Condicionamento técnico: Equipe técnica. Tem atletas que executam bem essa função;

Condicionamento tático: A tática da equipe estava bem definida, o que não ficou definido foi à tática individual. Alguns atletas foram envolvidos como o primeiro volante.

15. Dinâmica de jogo (fases).

Jogou de maneira cadenciada o jogo todo.

a. Sequência de gols feitos;

Não fez gol.

b. Sequência de gols tomados:

Primeiro gol: zagueiro central direito fez a cobertura do zagueiro central esquerdo por dentro, conduziu a bola pela lateral, tentou proteger e foi desarmado. A bola foi direcionada a um companheiro que chutou de primeira pra fazer o gol;

Segundo gol: Ataque da equipe adversária pelo lado direito com o lateral direito. Dá intermediaria ofensiva inverteu a jogada para a entrada do atacante que tocou cruzado de primeira para fazer o gol.

16. Bolas paradas:

a. Faltas laterais, frontais e escanteios, quem bate?

Lado direito e esquerdo ofensivo: Junai;

Rebote ofensivo: segundo volante e lateral direito.

b. Pênalti.
Neste jogo não foi assinalado.

17. Perfil da Equipe: Apesar de possuir atletas altos, pratica um jogo técnico. Procura manter a posse de bola. Tentaram envolver a equipe adversária com toque de bola. As jogadas foram centralizas em dois atletas: Junai e no lateral direito. Nesta partida tiveram total liberdade para atacar.

Imagem 1: Posicionamento defensivo da equipe verde, com 4 linhas.


Imagem 2. Posicionamento ofensivo da equipe Verde, também com 4 linhas.






Abraços

Fonte:

A Estratégia Bourne - Observação e controle

Décimo terceiro artigo da série "A Estratégia Bourne". Por Cleber Romero.














































































































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