segunda-feira, 5 de julho de 2010

Alemanha na semifinal.

Em passagem pela Itália, Paulo Roberto Falcão entrevistou José Mourinho, técnico da Inter de Milão e um dos treinadores mais respeitados do mundo
A entrevista foi publicada pela edição eletrônica do jornal Zero Hora (http://zerohora.clicrbs.com.br) no dia 06 de fevereiro de 2010. Falcão fez uma grande entrevista com várias perguntas, mais uma me chamou atenção e fiz questão de reproduzi-la, na integra.
Falcão – No futebol atual, é indispensável que todos marquem? O craque do time precisa marcar?
Mourinho – O craque? O craque é a equipe! Ganhamos todos e perdemos todos. Somos todos iguais. Mas trabalhar deve trabalhar todos. E um atacante pode trabalhar se pressionar o seu adversário na frente. Sem correr muito, pode atrasar a saída do adversário para o contra-ataque. Sim, sim, temos todos que trabalhar.
Fiquei com essa resposta na mente e continue trabalhando no futebol e assistindo jogos da Copa da África. Já tinha me impressionado da maneira que se comportou a seleção do Uruguai, a seleção da Espanha, a seleção da Holanda, mais fiquei impressionado com a seleção da Alemanha.
Parece que o técnico da Alemanha Joachim Löw tem a mesma linha de pensamento do técnico José Mourinho. Ambos acham que o craque em um time de futebol é a equipe! Todos trabalham em sincronia para o bem do grupo.
Diferentemente do técnico da seleção Alemã o argentino Diego Maradona, pautou sua equipe para o individual. E até jogar contra a seleção Alemã, Tevez, Higuaín, Maxi Rodriguez, Di Maria e Messi lhe davam esse respaldo, só que sucumbiram quando enfrentou os triângulos montados por Joachim Löw.

ALEMANHA SEM A POSSE DE BOLA

Quando a seleção da Alemanha estava sem a posse de bola optou por jogar flutuando de um lado para o outro na horizontal, e sua referência sempre era a bola. Com esse tipo de movimentação os atletas da Alemanha mantinham a estrutura dos triângulos sem perder a referência ou a estrutura montada por seu técnico. Pelo lado esquerdo do campo de defesa da Alemanha, utilizou Lukas Podolski que dava o primeiro combate na posição dois ou três. O segundo combate ficou a cargo de Jérôme Boateng (lateral esquerdo) na posição três ou quatro e formando a ponta do triângulo Schweinsteiger (craque), atuando na posição três, quatro e se fosse necessário na posição cinco. Pelo lado direito o triângulo era formado por Lahm (lateral direito), Sami Khedira (volante) e Thomas Müller (volante, atacante, artilheiro!). A posição de marcação era a mesma do lado esquerdo. Diferentemente da Seleção holandesa Klose dava combate até o meio campo, talvez devido à idade o seu técnico tenha criado um esquema onde o finalizador não tivesse desgaste na marcação e ficasse preparado para finalizar o que o faz com competência. Özil é o homem da criatividade, mais também flutua no momento sem posse de bola.

COM POSSE DE BOLA

Quando está com pose de bola, vira uma avalanche. Seu técnico coloca entre seis a sete atletas no campo do adversário com qualidade, utilizando ultrapassagem e com atletas surpresa, ou seja, os volantes chegam para finalizar. Com esta postura obrigava o selecionado Argentino a marcar. Detalhe: Tevez, Higuaín e Messi não faziam recomposição, só atacavam o que deixava o meio de campo da Alemanha livre para atacar.
O selecionado Alemão utiliza um revezamento de posições dentro do setor, sem mudar a estrutura do esquema e agora os triângulos permanecendo no ataque o que facilita a recomposição. Observem Lahm lateral direito, faz à diagonal ou linha de fundo. Khedira se apresenta ao ataque sempre que a bola está do seu lado de jogo. Os pilares da ponta dos triângulos Muller que o faz pelo lado direito tem maior liberdade para flutuar, pois foi ele quem deu o passe para Podolski servir Klose no segundo gol. Muller estava pelo lado esquerdo do campo de ataque da Alemanha. Schweinsteiger o pilar do lado esquerdo, raramente muda de lado, trabalha com classe pelo seu setor e fez a jogada que resultou no terceiro gol da Alemanha pelo lado esquerdo. Então a Alemanha não tem só a função de marcar. Özil flutua pelo lado direito e esquerdo, atua como segundo atacante e deu um passe milímetro para Klose marcar o quarto gol da Alemanha. Marcar é uma das funções do todo. E como faz uma equipe ter eficiência para defender e atacar? Existem algumas explicações que podem ou não agradar os leitores.

1) A primeira variável que encontro é anular o adversário, não deixar que o mesmo jogue. A Seleção Alemã utilizou contra Argentina marcação meia pressão (intermediária para trás, alguns dizem que é zona 2) e (meio campo para trás, zona 3), sempre com a marcação por zona e de forma agressiva na virada da bola. Isso fez com que os dois armadores da Seleção Argentina, Messi e Di Maria fossem receber a bola no seu campo de defesa. Este tipo de postura deixou isolados Tevez e Higuaín que não eram abastecidos. Esta postura tática tirou a velocidade da seleção Argentina e ficaram os noventa minutos na dependência de Messi.
2) Com o desarme sendo feito na intermediária adversária ou no meio de campo, iniciavam o ataque agrupados e com movimentação. Os atletas que vem de trás servem de estrutura para Özil e Klose;
3) Não sei se é surpresa o terceiro item, mais a recomposição da seleção alemã para que os triângulos fossem formados é de impressionar, pois mesmo atacando com eficiência não permitiam a Argentina contra atacar. E para que isso aconteça se faz necessário detalhar: a) no setor que a Alemanha perdia a bola, lá começava a marcação; b) aplicação tática; c) condicionamento tático; d) resistência e força especial; e) sincronismo no momento de ocupar espaço; f) e treinos direcionados para resolver os problemas enfrentados durante a partida.
Maradona tentou, colocou mais um atacante com o intuito de fazer pressão na defesa da seleção Alemã. Só que tem um detalhe, Tevez, Higuaín, Messi e Agüero, não retornava para marcar o meio nem faziam recomposição com velocidade. Antes eram três, com a entrada de Agüero, passou a ser quatro atletas com uma única função, atacar. A Alemanha segurou sua linha de zaga, como não permitia o contra ataque o jogo permaneceu tranqüilo e a Alemanha fazendo gols.
A Argentina continuava tentando, Maradona adiantou Messi, para tentar recuar os volantes da Alemanha, mais era tarde, a Alemanha já estava na semifinal. Foi uma demonstração de como uma equipe organizada e estruturada venceu a individualidade.
Abraços

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