sexta-feira, 9 de julho de 2010

A mulher na história, na filosofia e no futebol.

O reconhecimento social da mulher como “atleta de futebol” foi e continua sendo um desafio para estas adolescentes e mulheres em transformar o sonho de menina em realidade. A família aparece como o primeiro obstáculo, o segundo é provar que profissional de futebol não é um direito exclusivo do homem. O terceiro obstáculo e talvez o mais contundente se refira à crença de que o físico feminino é naturalmente inapropriado para certas práticas esportivas. Esportes como futebol e boxe oferecem maiores restrições às mulheres. Por isso, no país do futebol, o futebol feminino é ainda alvo de desconfiança e de certo estranhamento. Por isso, freqüentemente as atletas são constrangidas com palavras inapropriadas. O campeonato paulista de futebol feminino, realizado em 2001, tinha a beleza como um de seus principais critérios para a aceitação de jogadoras. O projeto elaborado em conjunto pela Pelé Sports & Marketing preconizava a necessidade de “desenvolver ações que enalteçam a beleza e a sensualidade da jogadora para atrair o público masculino” e “desenvolver ações de consultoria de imagem, estilo pessoal e treinamento de mídia com as jogadoras” (Folha de São Paulo, 16/09/2001).
A iniciação no futebol é igual para meninas e meninos, jogo na rua em frente a casa, meninas contra meninos ou mesclado. As traves são feitas de sandália, tijolo ou pedra. E nesses jogos sem compromisso, o tradicional racha (nome dado aos jogos de rua), existe algumas regras. A formação dos times pode ser feita por ordem de chegada ou esperar para tirar par ou ímpar. O tempo total do jogo este pode variar, cinco minutos, dez minutos, cinco minutos ou um gol, dez minutos ou 2 gols. Se do lado de fora estiver apenas um time esperando o que vencer fica, se tiver mais times podem sair às duas equipes e as regras vão sendo moldadas de acordo com o numero de peladeiros.
O leitor pode perceber uma coisa, a história de trabalhar em campo reduzido não é uma criatividade contemporânea, desde moleque quando participava dos rachas os jogos eram nesse espaço adaptado. No final do século XX e começo do século XXI os técnicos de futebol começaram a priorizar este espaço para treinar chamando de campo curto, campo reduzido ou aproximação. Devem ter se lembrado do tempo de criança, pois além de trabalhar a habilidade, raciocínio, técnica o moleque que não fosse esperto no racha não era escolhido, ficava sempre para próxima. A habilidade da rua não é ensinada por professor ou orientador técnico, ela acontece de maneira aleatória.
Meninas e meninos começam a se desenvolverem em um conjunto particular de movimentos conhecido como coordenação motora, que é a capacidade de usar de forma mais eficiente os músculos esqueléticos (grandes músculos), E este tipo de coordenação permite a criança ou adulto dominar o corpo no espaço, controlando os movimentos mais rudes. Exemplo: andar, pular, rastejar, correr, jogar futebol e outros. Este tipo de coordenação é considerada pelos cientistas como coordenção motora grossa.
Vocês já ouviram aquela história de que o dono da bola é o dono do time. Provavelmente sim, não era necessário ser a fera do racha mais era o mais respeitado e a frase dele era sempre a mesma “eu escolho o time”, ou em ultimo caso, “se eu não jogar eu vou embora e levo a bola”. No racha a bola pode ser feita de meia (geralmente do pai, ou um meião e enche de papel para chutar). Pode ser uma bola de capotão, a maioria das bolas de capotão era furada ou não tinha a câmara, mais não importava, o objetivo era jogar.
Temos o costume de, vulgarmente, chamar de habilidades somente as ações motoras. Como se para pensar ou se relacionar socialmente não recorrêssemos igualmente a habilidades e capacidades. Por exemplo, a habilidade de saltar um obstáculo depende da força e velocidade. Saltar muitas vezes seguidas tem a ver, além de força, com a capacidade de resistência. Pensar é uma ação que pode levar a exaustão, dependendo da capacidade de resistência do indivíduo par pensar. Fintar um adversário no futebol ou no basquetebol requer agilidade, e assim por diante, (freire, 2003: pg, 20).
A prática do futebol de campo está arraigada aos grandes craques do futebol. Pelé, Didi, Zito, Pepe, Djalma Santos, Jairzinho, Rivelino, Tostão, Zico, Sócrates, Junior e outros. Desculpem-me se não enumerei mais craques, se fossem colocar o nome de todos os craques do futebol brasileiro, não caberia em nestas folhas ou palavras. Neste sentido, poderemos constatar uma reduzida valorização da mulher que pratica o futebol. Se formos buscar a história da construção do futebol, iremos nos remeter para 1964 onde o Conselho Nacional de Desportos (CND) proibiu a prática do futebol feminino no Brasil e levou quase duas décadas para que essa decisão fosse revogada, para ser mais preciso só em 1981 as mulheres reconquistaram o direito de voltar a praticar o futebol.
Sabemos que o primeiro jogo oficial de futebol feminino no mundo se deu em Londres, em 1898, em um jogo emocionante entre Inglaterra e Escócia. Porém, no nosso caso brasileiro, existem muitas controvérsias e versões. Ainda nesse tema de início do futebol feminino no país, o Jornal O Estado de SP (1996, p.5) revela que o futebol feminino esteve relacionado a peladas de rua e a jogos beneficentes. E por fim, segundo Clério Borges, a primeira partida de futebol feminino foi realizada em 1921, em São Paulo, onde se enfrentaram os times das senhoritas catarinenses e tremembeenses.
A institucionalização do futebol feminino começou em meados da década de 80. Salles et al. (1996) afirmam que no Rio de Janeiro constam informações que a primeira liga de futebol feminino do Estado do Rio de Janeiro foi fundada em 1981, e que muitos campeonatos que se seguiram eram patrocinados por diferentes empresas. Ainda segundo o mesmo jornal (1996), foi a partir de 1980 que o futebol feminino começou a se popularizar mundialmente. O time carioca Radar colecionou títulos nacionais e internacionais. Em 1982, conquistou o Women's Cup of Spain, derrotando seleções da Espanha, Portugal e França. A vitória estimulou o nascimento de novos times e, em 1987, a CBF já havia cadastrado 2 mil clubes e 40 mil jogadoras. No ano seguinte, o Rio de Janeiro organizou o Campeonato Estadual e a primeira seleção nacional conquistou o terceiro lugar no inédito Mundial da China. O ano de 1988 marcou também o início da decadência do Radar e, com ele, do futebol feminino do Brasil. Nas Olimpíadas de Atlanta, em 1996, e de Sydney, em 2000, o Brasil foi o quarto colocado e, em 2004, conquistou a medalha de prata nas Olimpíadas de Atenas.
Entretanto, apesar da discriminação com as mulheres no campo de jogo ou de trabalho, é possível perceber o espaço que as mulheres conquistaram ao longo da história. Na história da filosofia, várias mulheres se destacaram como seres humanos que buscaram saber e ter conhecimento. No século XX há um destaque especial a algumas filósofas importantes. Dentre elas, encontram-se Hannah Arendt, Simone Weil, Edith Stein, Mari Zambrano e Rosa Luxemburgo. Estas mulheres, contrariando a ordem patriarcal de seu tempo, foram filósofas importantes e, sem dúvida, contribuíram decisivamente para a construção do conhecimento.
A mitologia grega destaca fortemente a presença de mulheres através da figura das deusas Artemis, Atena, Afrodite, Deméter, Hera, Perséfone, Pandora e Gaia. Embora a inteligência e o pensamento sejam representados pela deusa Minerva (versão latina da deusa Atena).
Sendo assim, na história atual do futebol feminino, as mulheres alcançaram o reconhecimento merecido. Marta eleita por três vezes melhor do mundo, dividindo palco, a platéia com craques renomados no futebol mundial como Kaká, Ronaldinho Gaucho, Messi e Cristiano Ronaldo na entrega da última bola de ouro promovida pela FIFA.
A forma de olhar a mulher atleta de futebol tem uma relação direta de como os homens analisam sua postura dentro e fora do campo. Os filósofos, em geral, tematizaram (que é o tema central de qualquer discussão) sobre a mulher ao longo dos séculos, demonstrando um claro desprezo ao ser feminino. Aproveitando-nos de uma passagem de Pitágoras, o mesmo afirma que “existe um princípio bom que gerou a ordem, a luz e o homem; há um princípio mau que gerou o caos, as trevas e a mulher” (Idem: 148). Embora a mulher tenha sido desprezada na história da filosofia, o tema “mulher” foi abordado por muitos pensadores. É preciso ter presente que as abordagens sobre a mulher encontram-se numa história da filosofia que foi escrita por homens.
O pensamento vigente é de que à mulher é permitido uma mente e um corpo, mas não os dois simultaneamente. Assim, a mulher jamais poderia produzir a razão, pois já possui a beleza. Essa dicotomia (separado em duas partes) entre alma e corpo também aparece no pensamento de Platão. No diálogo O Banquete, o mesmo mostra que o amor sensível deve estar subordinado ao amor intelectual, ou seja, “na juventude, predomina a admiração pela beleza física; mas o verdadeiro discípulo de Eros amadurece com o tempo e descobre que a beleza da alma deve ser considerada mais preciosa do que a do corpo” (ARANHA/ MARTINS, 1986: 342).
Na discussão sobre corporeidade, há uma associação do fraco com o feminino e do forte com o masculino. Aristóteles já afirmava que o corpo feminino está dotado de um cérebro menor.
Diante disto, pode-se afirmar que a visão negativa do “ser feminino” baseia-se no entendimento, segundo o qual, as “deficiências”, “limitações” e a própria inferioridade da mulher decorrem de sua própria natureza, ou seja, a condição inferior da mulher é vista como algo natural e, portanto, imutável. Esta visão do “feminino” esteve presente na história da filosofia e continua sendo um desafio para as mulheres filósofas. Enquanto ser humano, a mulher é dotada de razão, mas o uso pleno e adequado ainda está reservado, majoritariamente, ao ser masculino.
Abraços.


Referências Bibliográficas.
Livros e periódicos
1. João Batista Freire (2006). Pedagogia do Futebol. – 2º. Edição Campinas, SP. Autores    Associados.
2. Ramon Missias Moreira. A mulher no futebol brasileiro: Uma ampla visão. Revista Digital – Buenos Aires Maio de 2008 / www.efdeportes.com.
3. Suraya Cristina Darido, Osmar Moreira de Souza Junior (2009). Para Ensinar Educação Física, 3ª. Edição Papirus Editora – Campinas, SP.

Um comentário:

Ramon Missias disse...

Olá caro colega SerGinhoW..

Obrigado por utilizar o meu artigo para construir o seu texto.. ficou muito interessante!

Abração